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A Espiritualidade da Reforma Protestante
Alderi Souza de Matos
1. Definição de espiritualidade
- Termo muito usado, porém vago, impreciso
- Pode significar meramente o cultivo da vida interior ou a busca de experiências religiosas e místicas as mais variadas (característica da pós-modernidade, da Nova Era)
- “Atitudes, crenças e práticas que animam a vida das pessoas e as auxiliam a se voltarem para realidades supra-sensíveis”
- Não é necessariamente cristã, nem é necessariamente saudável (fanatismo, manipulação)
- Sentido cristão clássico: vida devocional, devoção, piedade (eusebeia, pietas), santidade, santificação, vida com Deus; ênfase: relacionamento profundo com Deus
- Critérios:
– Objetivo – busca de comunhão com o Deus trino (Pai, Filho e Espírito Santo)
– Métodos – leitura e meditação das Escrituras, oração, louvor
– Embora importante, não é um fim em si mesma
– Não deve ser individualista, alienada, mas relacionada com a vida e com outros deveres cristãos.
- Ver o livro Celebração da Disciplina
2. A espiritualidade do final da Idade Média
- Centrada na igreja: missa e sacramentos (dependência do sacerdócio)
- Objetos de devoção: Deus, Maria, santos e anjos
- Práticas: jejum, esmolas, penitências, rezas, novenas
- Piedade meritória: busca de perdão e salvação
- Tendência para a superstição e fanatismo
- Espiritualidade mais saudável: movimentos devocionais
- Misticismo alemão: dominicanos João “Meister” Eckhart (1327), João Tauler (1361), Henrique Suso (1360)
- Os “amigos de Deus” e a Teologia alemã; influência sobre Lutero
- Misticismo holandês, inglês e italiano
- Os Irmãos e Irmãs da Vida Comum e a Devoção Moderna: ênfase no relacionamento pessoal com Deus e na meditação sobre a vida de Cristo; devoção interior e serviço ativo
- A Imitação de Cristo (Tomás à Kempis, 1471) – ver excertos
- Inglaterra: João Wyclif e a tradução da Bíblia (1384)
- João Hus e Irmãos Boêmios-Morávios
3. A espiritualidade da Reforma – Martinho Lutero
- Baseada em um novo entendimento da salvação e da vida cristã
- A experiência pessoal de Lutero acerca da justiça de Deus
- A justificação pela fé e o seu efeito libertador
- A vida como peregrinação: salvação, não o alvo, mas o ponto de partida
- Teologia de cruz x teologia da glória
- Consciência do pecado (“somos todos mendigos”)
- Consciência da graça de Deus manifesta em Cristo
- A importância da oração: livreto escrito a pedido do barbeiro Pedro (1535)
- Normas: preparação remota (ordenamento do dia, escolha das prioridades, disciplina da vontade) e preparação imediata (meditação sobre os Mandamentos, o Credo e a Oração do Senhor buscando quatro elementos: ensino, gratidão, confissão e oração).
4. A espiritualidade da Reforma – João Calvino
- Os quatro livros das Institutas: (1) conhecimento de Deus o Criador; (2) conhecimento de Deus o Redentor; (3) a nova vida em Cristo; (4) a igreja e os sacramentos
- Terceiro livro:
– Cap. 2: “fé é um conhecimento firme e certo da benevolência de Deus para conosco, fundado na verdade da promessa concedida gratuitamente em Cristo, revelado às nossas mentes e selado em nossos corações pelo Espírito Santo”
– Caps. 6-10 – a vida do cristão;
– Cap. 20 – “a oração, que é o principal exercício da fé e pela qual recebemos diariamente os benefícios de Deus”
- Base: união com Cristo (conceito paulino); espiritualidade é a nossa participação no que Deus fez por nós em Cristo; a atuação do Espírito Santo; os meios de graça; relação entre doutrina e culto
- Instrumentos: Escritura, igreja, culto, pregação, sacramentos, disciplina, oração (resposta à graça de Deus)
- Vida de obediência e submissão a Deus – o terceiro uso da lei
- Importância da participação na comunidade cristã (igreja) e na comunidade humana (sociedade).
- A importância dos catecismos e confissões de fé, com suas exposições dos Dez Mandamentos, do Credo Apostólico e da Oração do Senhor
- Catecismo de Heidelberg (1563):
Pergunta 1: Qual é o teu único consolo na vida e na morte? Resposta: “É que eu pertenço – corpo e alma, na vida e na morte – não a mim mesmo, mas ao meu fiel Salvador, Jesus Cristo, que ao preço do seu próprio sangue pagou plenamente por todos os meus pecados e me livrou completamente do domínio do diabo; que ele me protege tão bem que sem o consentimento do meu Pai que está no céu nem um fio de cabelo pode cair da minha cabeça; de fato, que tudo deve cumprir o seu propósito para a minha salvação. Portanto, por seu Santo Espírito, ele também me assegura a vida eterna e me torna sinceramente disposto e pronto desde agora a viver para ele”.
- A verdadeira espiritualidade: um viver no Espírito, baseado na Palavra revelada de Deus, vivido no contexto da igreja e voltado para o louvor e a glória de Deus
- Motivações da espiritualidade:
– Lutero – senso de alegria e liberdade no perdão dos pecados
– Zuínglio – religião pura e serviço obediente ao verdadeiro Deus
– Calvino – senso de admiração e deslumbramento diante da glória de Deus
– Menno Simons – discipulado fiel, isto é, seguir a Cristo no sofrimento
Timothy George: “A herança litúrgica da Reforma nos chama de volta à convicção de que o culto deve, acima de tudo, contribuir para o louvor do Deus vivo”.